O projecto deste livro não se reduz ao de celebrar a nostalgia ou de reactivar a lembrança daqueles, conhecidos ou menos conhecidos, que acompanharam a vida de Edgar Morin. É mais do que nunca necessário procurar compreender aquilo que, desta obra, cabe ao "espírito do tempo", bem como ao seu autor. Edgar Morin é um desses pensadores que solicitam todas as dimensões da existência e que, desde o início, colocou no centro do seu trabalho o método reflexivo daquele que não escreve ingenuamente, mas que se observa a escrever, num processo de meta-reflexão sobre as condições do exercício do pensamento. E de facto, se bem que publicado no estado de fragmentos, o diário baliza esta obra, reconstituindo a ligação do homem com a criação e da criação com o autor, tecendo a vida de um escritor. A criação alimenta-se talvez sobretudo daquilo que não se diz, porque ela é também o trabalho do tempo, como o fundo sobre o qual ela surge. É definitivamente o fio das ideias que se propõe seguir aqui, o qual tece uma vida. Este livro apresenta-se assim como uma "eco-biografia", um mergulho no "ecossistema" das ideias de Edgar Morin. O fio de Ariadne que é proposto baliza um itinerário e supõe um retorno, porque no labirinto da diversidade da obra se constrói uma coerência. Para lá das ocorrências de um destino, para lá do ecletismo das influências, ela responde a uma necessidade profunda, que obedece a alguns princípios fundadores. Para os perceber, é à tessitura que este livro recorre. A de uma aventura no século que incita a casar a literatura com a ciência, a política com a antropologia, o género literário com o ensaio. Em suma, há dois fios nesta obra; o fio cronológico, a acumulação dos factos, que não visa a exaustividade, mas que constitui a vida quotidiana, o relato de uma existência. O segundo fio antecipa ou retroage sobre esse relato; ele cruza olhares sobre a época, que diferem pela sua natureza, pela sua origem ou pela sua idade. Ele pretende construir um sentido, assinalando determinações, e relativizando-as também, consciente dos seus limites e dos seus pressupostos. FRANÇOISE BIANCHI nascida em 1947 em Toulouse, ensina Letras na Universidade de Pau e des pays de l Adour.