'Antropologia das práticas de poder: reflexões etnográficas entre burocratas, elites e corporações' volta o foco para a mudança do fazer etnográfico que responde aos imperativos de um mundo em transformação. Mudança que anuncia a importância de associar observação participante à análise acurada de documentação que revela práticas de poder, obrigando os antropólogos hoje muito mais jovens do que ontem, dada a expansão da pós-graduação no Brasil a lidar com mentiras e verdades que aviltam os sujeitos de direito, estejam eles de um lado ou de outro da interlocução, indicando a necessidade de descrever sem prescrições que comprometam o trabalho; tarefa que exige habilidades diversas, daquele que antes observava e participava, mas não se debruçava sobre documentos e práticas perscrutando, como historiador, as nuances e os entraves do poder para evitar o mal-estar contemporâneo. Trabalhar entre burocratas, elites e corporações que jamais facilitam o acesso à informação, nem aos cidadãos e menos ainda aos estudiosos, é um desafio que os clássicos não alcançam, mas que se precisa enfrentar. A coletânea é expressão da Antropologia feita no Brasil, com responsabilidade e reflexão, enfrentando as estruturas de poder que cerceiam os direitos e limitam a liberdade científica pela sonegação de informações. Há indicativos de que se formam antropólogos que discutem as colonialidades produzindo uma Antropologia que desvenda o Brasil sem se deixar seduzir pelas antropologias metropolitanas, e que se permitem atuar em espaços diversos com qualidade, respeitando os cânones da ética. Para além da produção, reflete-se sobre os desafios de fazer Antropologia no Brasil sem descurar do diálogo com o que se faz pelo mundo.