Em defesa de Mallarmé, afirmou Valéry, certa vez, que o trabalho severo, em literatura, se manifesta e se opera por meio de recusas; pode-se dizer que ele é medido pelo número de recusas. A melhor poesia que se praticou em nosso tempo passou por esse crivo. Da recusa estética (Mallarmé) à recusa ética (Tzvietáieva), se é que ambas não estão confundidas numa só, essa poesia, baluarte contra o fácil, o convencional e o impositivo, ficou à margem e precisa, de quando em vez, ser lembrada para que a sua grandeza essencial avulte sobre o aviltamento dos cosméticos culturais. Os poetas aqui reunidos, por diferentes que sejam entre si, têm em comum a bandeira da recusa. Evidente nos enigmas de Mallarmé, exposta dramaticamente na voz abafada dos russos da geração que dissipou seus poetas, segundo a expressão de Jákobson, também está presente nas propostas radicais de Gertrude Stein e nas especulações mais ousadas do Yeats pós-Pound. Nem todos os poetas apresentados neste livro pertencem, estritamente, à categoria dos inventores. Mas todos eles são extraordinários artífices do ofício poético, com os quais há muito que aprender. E aqui estão representados, tanto quanto possível, por suas propostas mais radicais, seja pela linguagem seja pela postura ético-estética. De Kuhlmann a Dylan Thomas, a poesia se mostra, aqui, em toda a sua integridade ética e estética. Não há concessões. Não há apelações. A poesia requer de nós algum instinto revolucionário, sem o qual ela não tem sentido. Os textos escolhidos manifestam, implicita ou explicitamente, formas de desacordo com a sociedade ou com a vida, capazes – eu suponho – de despertar esse ímpeto revolucionário nos leitores e fazer com que as suas vivências se enriqueçam com a sofrida experiência da recusa poética.