Temos aqui um livro que, para além da cansativa polarização teoria-prática, busca uma atitude mais criativa e produtiva, no esforço de ultrapassar essa desgastada questão que muitas vezes mais emperra que impulsiona o debate crítico sobre a clínica. O que não significa que a obra não se assenta sob uma sólida base epistêmica, pois o texto não só não esconde a opção do autor como faz questão de explicitar e elaborar suas escolhas teóricas, mas não como filiações enrijecedoras. Um dos seus méritos está exatamente em mostrar com os autores, escolas e textos foram incorporados, ressignificados e mesmo superados. Portanto, é um livro aberto e inclusivo, para além dos sempre temerários guetos epistemológicos. A envolvente narrativa pode ser tomada como uma defesa, quase um tributo, à psicologia clínica: sua importância e atualidade, sua pertinência e centralidade; ousaríamos dizer, com outros que já o têm afirmado, que, em tempos de medicalização da vida, a clínica assenta-se como um ato de resistência. E o léxico denso pelo qual transita dá uma boa medida de quão aguda é a disponibilidade clínica à qual o autor se posicionou em sua trajetória como psicólogo. Enfim, o livro aponta para um saber-fazer que vai se fazendo, elaborado aos poucos, no manejo real da experiência clínica. Um cotidiano, onde o sentido de técnicas e os mais variados recursos continuam tendo seu valor, não obstante seus limites.