A negatividade em filosofia tem longa credencial. Negatividade é um nome chique para crítica, pessimismo, acosmismo (negação de que exista alguma ordem de sentido nas coisas ou de que exista, sim, uma perversa), enfim, para concepções que retiram de nós a esperança. A tragédia grega ática e o niilismo moderno são exemplos sofisticados. Os gnósticos do início da era cristã, o zoroastrismo persa, mais antigo, e o maniqueísmo iraniano uma forma de cristianismo influenciada pelo pessimismo cosmológico persa, também do início da era cristã são formas de espiritualidade negativa. Nos três casos, quem criou o mundo foi uma divindade cruel. Agora, temos um gnóstico entre nós, o filósofo Carlos Malferrari, o discreto. O delírio filosófico do historiador Salem Zoar é um exemplo primoroso desse estilo distópico, que guarda semelhança significativa com as cosmogonias gnósticas pessimistas em que o mundo é criação de um demiurgo idiota, orgulhoso e incompetente.