Um toque de enigmática originalidade caracteriza 'O todo-ouvidos'. São cinqüenta caracteres, cinqüenta descrições de personagens desdobrando-se a partir de nomes que por sua vez são estranhas palavras compostas com muito humor. Ler 'O todo-ouvidos' acaba sendo uma experiência nômade - afinal, o que é que estamos lendo - ficção, ensaio ou tipologia social! Certamente, tudo isto, graças a uma ressurreição apropriada do gênero literário que era descrever caracteres e que, antes de Canetti, ocupara Teofrasto (372-287 a.C.) e La Bruyère (1645-1696). Canetti não quis apenas fazer o elogio fúnebre a um antigo gênero literário. Em 'O todo-ouvidos', a arte de criar caracteres é estritamente contemporânea. Personagem da literatura recente, Canetti sabe do papel que a linguagem exerce na arte contemporânca da narração. Por isso, é a partir de atos de linguagem que se apresentam os caracteres de 'O Todo-ouvidos'.