Há aqui um peixe, alguma ternura, uma ideia de vida. E há também os que tombam na rua, e os múltiplos tormentos domésticos, as luzes fracas demais, a banheira encardida. A batalha diária pode ser muito incômoda, e o apartamento se incomoda junto, metros quadrados de uma proteção desajustada. Até quando vai proteger? O surgimento de uma ideia. É imprescindível afastar a ideia. As vozes se interrompem, fragmentam a ideia, e sentimos o prazer de quando se tocam, um fragmento no outro, o peixe, o olho, a agulha, os grampos perdidos, a janela, as luzes tão fracas. Podemos sentir a ideia, embora a muitos de nós seja impossível compreendê-la, nós que vemos uma janela e só pensamos na paisagem, não deixamos a janela decidir. Nós que não precisamos manter a porta destrancada para o caso de baterem duas vezes e não respondermos. Temos aqui intensas voltas dentro desse aquário escuro, e o maior perigo para o peixe é o próprio peixe. Mariana Salomão Carrara