O título, bastante explicativo em si, ainda não dá conta da riqueza das vivências e reflexões de mulheres nos ambientes acadêmicos e profissionais do Direito, reunida nessas páginas. A organizadora do livro, Vanessa Dorneles Schinke, apresentou às autoras de diferentes idades, momentos de carreira, inserções profissionais, orientações sexuais, identificações raciais, opções de relacionamento, opções com relação à maternidade, estilos de vida, o desafio de pensarem reflexivamente sobre a sua trajetória em ambientes constituídos pela ordenação social da desigualdade de gênero. Ela percebeu que as lutas por reconhecimento e por equidade de gênero ganharam novas proporções nos últimos anos, sendo necessário produzir e sistematizar conhecimento que nos permita avançar na superação das desigualdades e criação de novas formas de relacionamento na universidade, no trabalho, nos tribunais, nos relacionamentos amorosos, nos conjugais, na política, na luta por direitos, sem cair nas armadilhas do punitivismo ou do elitismo, que rondam como lobos famintos ansiosos para devorar as lutas emancipatórias. As escolhas das autoras, respondendo ao desafio lançado, rompem com um princípio epistemológico fundante da modernidade, que é a ideia de neutralidade do conhecimento. Ao ler os textos, relevam-se as autoras inscritas num emaranhado de relações concretas de que são, ao mesmo tempo, produto e produtoras, posto que a ação feminina e sua capacidade de criação e transformação emerge palavra a palavra, ao longo das páginas e dos anos de vida num corpo concreto. Sujeitas dotadas de capacidade de reflexão e ação sobre o mundo: é assim que se colocam as autoras, escolhendo ora realizar sua inscrição reflexiva por meio do relato de sua vivência, ora inscrever-se como uma intelectual que, por meio de sua análise sistemática e criteriosa, afirma-se como uma profissional que tem gênero, corpo, experiências, posturas epistemológicas, teóricas e políticas.