Paulo Freire entendia que os Círculos de Cultura expressavam a capacidade humana de refletir sobre o mundo, sobre a posição humana no mundo e o poder dos humanos transformarem esse mundo por meio do trabalho e do encontro dialógico. Entendo que as professoras Nima I. Spigolon e Camila B.G. Campos, foram motivadas por essas mesmas disposições quando organizaram a coletânea Círculos de Cultura: teorias, práticas e de práxis. Num momento em que a lógica do mercado parece recobrir todas as esferas da vida social e natural, além de transformar as práticas culturais diferentes e desiguais em mercadorias variadas para públicos diversos, me indago: Como assegurar que os Círculos de Cultura preservem seu potencial dialógico, crítico, emancipador e transformador? - Como assegurar que eles não se transformem em mais um bem cultural? O conceito de educação bancária, realçado por Paulo Freire, dialoga com o de bem cultural, realçado por Adorno e Horkheimer, na medida em que ambos apontam para o perigo de transformar as práticas culturais, dentre elas os Círculos de Cultura, em mercadorias que reificam os sujeitos e os processos sociais envolvidos. Pergunto, ainda mais: Qual é o nosso interesse em refletir hoje a respeito dos Círculos de Cultura? Quais são as questões presentes que orientam hoje a nossa prática e o nosso entendimento sobre esses Círculos? Na atual conjuntura sócio político econômica e educativa o que caberia aos Círculos de Cultura refletir? Como não reduzi-los a uma inovação didático pedagógica tão em moda na visão hegemônica moderna que, contando com a técnica e a tecnologia, tudo muda para que tudo permaneça como esta? São provocações que faço a(o)s autora(e)s e leitora(e)s desta coletânea e que espero ver encaminhadas nas linhas e entrelinhas tecidas entre as teorias, as práticas e a dialética das práxis. Profa. Dra. Débora Mazza (FE/UNICAMP)