Assumindo eu o papel de Prometeu, já empenhado na finalização de uma nova criatura, juntei os cacos que pude garimpar nos estirões de minha jornada e pus-me a fabricar um novo vivente. À medida em que fui encaixando as peças, pareceu-me que estava montando uma bela colcha de retalhos. A metáfora de retalhos surgiu daí, amparando-me também em frei Carlos Mesters que enxerga a Bíblia como uma rica e bela colcha de retalhos. Foi então que me lembrei da doce conterrânea, a carismática poetisa, Cora Coralina que também tropeçou nessa metáfora do retalho. Esgueirei-me por entre os altares das divinas musas e acerquei-me da sagrada forja da minha Hefestos, Cora Coralina e arrebatei do seu estojo algumas joias para aplicar um fulgor de arremate à minha nova criatura. E repare a joia que emprestei de Cora Coralina: [] Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade que me tornam mais pessoa, mais humana, [] pedaços de outras gentes que vão tomando parte da gente também. [...]