Tropeando com Rivadavia Severo: Cheiro de campo molhado pela chuva. Rumor distante de trovoada (ou de canhões?). Pisar firme do cavalo crioulo. Chapéu quebrado na testa. Poncho atirado sobre um ombro. Assim é o gaúcho de três pátrias. Visto de longe, tropeando seu gado pelo pampa, quem poderá saber o lado da fronteira em que nasceu? Brasileiro, uruguaio, argentino? Nossa cultura é essencialmente igual. Somos produto da terra varrida pelos mesmos ventos. Trazemos nas veias a mescla de sangue índio, branco e negro, na ordem de chegada de cada dessas etnias a nossa terra natal. Embora erudito pela prática universitária, a leitura infatigável e o apetite das viagens, Rivadavia Severo continua sendo um gaúcho verdadeiro. Sua cultura essencial é a do mate amargo, do churrasco, do amor à família, da hospitalidade, do respeito à palavra empenhada. Já no berço, aprendeu isso com seu pai, Alberto Severo, jovem estudante de Direito, que arriscou a vida ao lado de chimangos e maragatos, no único combate em que lutaram juntos, o do Cerro Alegre, na Revolução de 1932. Depois de imensa produção literária, nos últimos cinquenta anos, publicada principalmente em jornais e editada em rádios; depois de quatro obras de ensaios e crônicas onde atinge o universal, como queria Tólstoi, sem nunca esquecer suas raízes, Rivadavia Severo nos entrega este livro bilíngue em português e espanhol. Uma obra única em seu gênero, onde tropeia pelo Brasil, Uruguai e Argentina, contando a cada ronda, como o Tio Lautério, do Antônio Chimango (livro, aliás, que conhece de cor), muito da história da nossa terra e da nossa gente. Para o escritor Mario Delgado Aparain, meu querido irmão uruguaio, o Mercosul ainda não deu certo porque não se une os povos pelo mercado e sim pela cultura. Livros como este são essenciais para a união de todos nós, separados pela saga das fronteiras, mas unidos pelo menos amor à liberdade, igualdade e fraternidade universal. - Alcy Cheuiche, Porto Alegre, inverno de 2016.