Emendar Sêneca, corrigir Pascal, além de um capítulo que escapou a Aristóteles e outro que não é sério: nada disso é propriamente testemunho de que a ficção machadiana visa superar os clássicos ou indício de que pretenda convocá-los a um simposium em que, acima do tempo e fora do espaço, se corrijam ou corroborem. Embora ambas as hipóteses sejam argumentáveis, os ensaios deste livro pretendem sobretudo levantar testemunho do propósito cosmopolita que anima a ficção machadiana e do qual decorre tudo o mais que aqui se inventa a respeito dela. Em consequência, é justo dizer que os ensaios militam em favor da ideia de que a consideração da forma livre, a exigência do ceticismo crítico e a persistência do cômico compõem, em liga única, uma prática radicalmente original da literatura.