O poema Isso não são horas nos apresenta a questionadora poeta Claudia Freire, que estreia em livro, mas está longe de ser uma iniciante. Já no primeiro verso, Claudia pergunta e responde e continua sem resposta. Inquieta e inquietante, como um poeta que se preze deve ser. Ela não fecha, não encerra. Abre novas janelas, desesperada por ar. Nós, leitores, respiramos. A autora reverbera, ecoa, vibra. Com fome/o poeta é uma mal traçada linha/que está por um fio. Sabe que andar na corda bamba é ofício de quem envereda pelo verso. Sou o que mais me assombra/vulnerável vulto/delicado nada. Seu olhar fotográfico registra horizontes e migalhas. Perspectivas das sobras. Na mesmice do cotidiano, a calmaria ficou impraticável. A todo momento, a poeta desesperada por ar abre janelas como se fossem Matrioscas. Uma dentro da outra, outra dentro daquela. Outra característica de Claudia Freire é a ironia fina, um tapa na cara, deixado em A marca indelével da emenda. [...]