Esta novelaa de D. da Costa-Cobra Leite joga o leitor, desde o título plurilíngue, num universo que só se pode definir como plural. Aliás, definir é palavra provavelmente inadequada para a experiência a que o texto convida, apostando na quebra de expectativas relacionadas com gêneros, registros e técnicas narrativas. Contando um episódio singelo, acontecido numa cidade posta na fronteira, mas cujos topônimos desenham um grande painel carnavalizado do Brasil, somos conduzidos por restos de fatos, sonhos, buscas e desconhecimentos que vão aos poucos conformando a trama. No fim e ao cabo, o que se encena é a desconstrução do próprio ato de narrar. Como explicita em determinado ponto a pergunta, que diz respeito a uma personagem, mas implica qualquer narrador. O que ha´ dentro dos narradores? à qual sucede a resposta sem concessões: Não ha´ nada dentro de no´s, um vazio ardente prestes a eclodir, o silêncio estrutural da li´ngua. E´ o som de um farfalhar e roc¸ar, como um pa´ssaro da noite empoleirado sem que se veja seu corpo, no meio da escuridão. Desse ponto de observação, narrar talvez ainda seja insuficiente para dar conta da sofisticação do autor, que não se constrange em explorar verso e prosa, épos e drama, fatos e delírios. Nhe’enga, primeiro termo que brilha na escuridão do título, em tupi antigo significa ‘falar’. Alcançamos uma definição? Talvez. Parece simples: a fala. Mas é do radicalmente simples que tira sua força a linguagem poética. Jacyntho Lins Brandão Verão 2020Esta novela de D. da Costa-Cobra Leite joga o leitor, desde o titulo plurilingue, num universo que so se pode definir como plural. Alias, definir e palavra provavelmente inadequada para a experiencia a que o texto convida, apostando na quebra de expectativas relacionadas com generos, registros e tecnicas narrativas. Contando um episodio singelo, acontecido numa cidade posta na fronteira, mas cujos toponimos desenham um grande painel carnavalizado do Brasil, somos conduzidos por restos de fatos, sonhos, buscas e desconhecimentos que vao aos poucos conformando a trama. No fim e ao cabo, o que se encena e a desconstrucao do proprio ato de narrar. Como explicita em determinado ponto a pergunta, que diz respeito a uma personagem, mas implica qualquer narrador O que ha dentro dos narradores? , a qual sucede a resposta sem concessoes: Na~o ha nada dentro de no s, um vazio ardente prestes a eclodir, o sile^ncio estrutural da li ngua. E o som de um farfalhar e roc ar, como um pa ssaro da noite empoleirado sem que se veja seu corpo, no meio da escurida~o. Desse ponto de observacao, narrar talvez ainda seja insuficiente para dar conta da sofisticacao do autor, que nao se constrange em explorar verso e prosa, epos e drama, fatos e delirios. Nhe enga, primeiro termo que brilha na escuridao do titulo, em tupi antigo significa falar . Alcancamos uma definicao? Talvez. Parece simples: a fala. Mas e do radicalmente simples que tira sua forca a linguagem poetica. Jacyntho Lins Brandao Verao 2020