Assim que as portas das catedrais dos outros mundos são abertas, é impossível escrutinar as arritmias cardíacas daqueles que ousaram repicar seus sinos. Não se perfila as vertigens. A Natureza contém sua ética, portanto, é inerente confrontar-se com seu mel e açoite. /Crianças do abismo/ é um romance poético, com belíssimas imagens, metáforas e acirradamente bem escrito fato estético que merece ser evidenciado diante da miscelânea literária contemporânea. O leitor projetará na confissão de Ricardo Takahashi seu próprio interpretativismo, entretanto, nota-se crucial tomá-lo como um rapaz que realmente existiu. Esta não é uma fábula. Há anônimos flutuando entre avenidas e transportes públicos sem que se suspeite que dentro de seus tórax engendra-se um coração de obsidiana flamejante. O protagonista é terno em sua persistente inocência, apesar da peçonha escorrendo a rebote. E a coragem estúpida de embebedar-se em abissais desertos nos cálices doirados, a despeito das hipérboles maniqueístas.