Illuminations (coloured plates) / Iluminuras (gravuras coloridas), publicado pela primeira vez em 1886, é um dos textos fundadores da poesia moderna e o testamento poético de Arthur Rimbaud (1854-1891). Escrito em parte durante as temporadas em Londres, com seu gosto pela ambiguidade e polissemia, Rimbaud escolheu como título uma palavra inglesa que significa, simultaneamente, tanto iluminações (no sentido de inspiração ou percepção súbitas) quanto iluminuras (gravuras coloridas, acepção reforçada pelo subtítulo), manuscritos iluminados (decorados e ilustrados com formas, desenhos, figuras). Ou, ainda, em referência às luzes urbanas artificiais, fogos de artifício e técnicas de iluminar cenários teatrais. Título mais que adequado para uma poesia multifacetada, visionária e que até hoje testa a imaginação dos leitores. Escrito dos 19 aos 21 anos, pouco antes de abandonar a literatura e partir para a África, Illuminations traz a aplicação de seus princípios poéticos de invenção e alquimia verbal, pensamento cantado e alucinação simples, onde o poeta, ao fixar vertigens, se faz vidente por um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos (físicos e sociais). Nesta obra que pode ser chamada de As Metamorfoses da era industrial, Rimbaud dissolve os limites entre poesia e prosa, lírica e narrativa, identidade e alteridade, real e imaginário, tempo e espaço, alta e baixa cultura, palavra e mundo, fazendo da linguagem um laboratório para a criação de novas realidades e percepções. Nas composições caleidoscópicas de Illuminations, momento culminante de sua escrita, Rimbaud quer levar ao limite a exploração do impacto da mente poética sobre a realidade exterior, fazendo com que o poema, muitas vezes, apareça na forma de um enigma. Como escreveu Leo Bersani: Longe de ser uma película protetora entre nós e a complexidade psicológica e secreta do poeta, a linguagem em Illuminations chega a ser ofuscada pela própria luminosidade das telas que a linguagem evoca. Tudo se destina como num número de circo espetacularmente vulgar a fascinar nossos olhos, tornando impossível para nós desviar nossa visão saturada da cena hipnótica. É mais do que simplesmente escrita sobre experiências, e sim escrita como experiências. Vinte anos depois da primeira publicação pela Iluminuras, nesta edição bilíngue, revisada, anotada e acompanhada de ensaio crítico, os poetas Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça assumem o desafio de traduzir para o português esta obra-prima da poesia universal.