Pronunciamento de estreia no Senado de um dos mais brilhantes pensadores do cenário brasileiro e diaspórico em 14 de novembro de 1991: “Fala aqui, Senhor presidente, um sobrevivente do maior holocausto já vivido por um povo na História da Humanidade: mais de 200 milhões de assassinatos entre os portos de embarque na África, os porões dos navios negreiros, e as Américas. São 500 anos de escravidão no Brasil, escravidão que ainda perdura nas formas vergonhosas da opressão, da humilhação e da discriminação racial. Estão ouvindo, senhores senadores, um filho desse povo heroico construtor de civilizações milenares, que veio acorrentado para as terras “recém descobertas” das Américas. E é esse povo que quero invocar em primeiro lugar, pois é em nome dele que estou aqui neste momento. Evoco aqueles que me antecederam nesta luta que me traz hoje a esta tribuna: na pessoa de Zumbi dos Palmares, rendo minhas homenagens a todos os africanos e afro-brasileiro que trabalham e batalham por amor a seu povo e ao Brasil, seguindo a longa tradição africana que remonta à linha das rainhas – mães guerreiras Kentake da antiga Núbia, Yaa Asantewá da Ghana e Nzinga da Angola, chegando ao Brasil nas pessoas de Dandara, Aqualtume e Luiza Mahin, Axé Babá” - Abdias Nascimento, 2006, p.184