Os Sermões de Antonio Vieira representam a mais alta prosa já escrita em língua portuguesa. Na síntese de Fernando Pessoa, eles compõem uma grande certeza sinfônica. É essa grande sinfonia da língua e seus sentidos que o leitor encontra nestas páginas, justificando o cuidado dispensado a esta edição em dois volumes, organizados por Alcir Pécora (professor de Teoria Literária da Unicamp).O tomo 1 contém 25 sermões, incluindo alguns dos mais famosos, como da Sexagésima, da Quarta-feira de cinzas e do Bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, além de um alentado estudo introdutório do gênero em seu auge (Sermões: o modelo sacramental) e de milhares de notas de identificação e tradução das referências neles contidas (todos os textos foram cotejados com a primeira edição, organizada pelo próprio Vieira).Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os climas não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com tanto arrojo, que apenas há baixio no Oceano, que não esteja infamado com miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos alarves, das feras, dos peixes, que as terras que assim ganhamos, as hajamos de perder assim?