Editora Globo relança uma das mais importantes peças do teatro brasileiro, encenada somente 34 anos após sua publicação. Obra de vanguarda, o título é um canal político para a crítica social. Na contracapa, retrato de Oswald de Andrade por Candido Portinari. O livro. O rei da vela tornou-se um marco no teatro brasileiro em 1967, com a montagem dirigida por José Celso Martinez Corrêa naquele mesmo ano. Escrita por Oswald de Andrade, em 1933, a peça é uma crítica à sociedade e à política de um Brasil que vivia a crise do café e as conseqüências do crack de 1929 da Bolsa de Nova York. Escrita na Ilha de Paquetá, este livro de Oswald de Andrade está centrado no mundo dos penhores, falências, misérias e desespero dos empresários fracassados endividados mais ainda nas mãos dos agiotas. Essa experiência foi vivida pelo próprio autor, que "tocou flauta" por vários momentos. Apesar de ambientada na década de 1930, a obra continua atual. A última encenação foi há dois anos, numa releitura multimídia de Henrique Diaz. "Senilidade mental nossa? Modernidade absoluta de Oswald? Ou pior, estagnação da realidade nacional?", questiona José Celso Martinez Corrêa, no Manifesto do Oficina, publicado no ano da primeira montagem e reproduzida nesta reedição. Dividida em três atos, a peça tem como protagonistas Abelardo I, Abelardo II e Heloísa. Dono de uma empresa de usura, Abelardo & Abelardo, Abelardo I é um empresário que enriqueceu às custas dos fazendeiros desesperados com a crise do café. Enquanto o mundo amarga as consequências do crack da Bolsa, o empresário tem a "brilhante" solução de produzir e comercializar velas. "Num país medieval como o nosso, quem se atreve a passar os umbrais da eternidade sem uma vela na mão? Herdo um tostão de cada morto nacional", afirma o personagem oportunista Abelardo I, explorando superstições nacionais. Já Abelardo II mata seu homônimo para assumir os negócios, inclusive a noiva Heloísa. Em 1981, José Celso Martinez Corrêa transformou a peça em filme.