Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2017 na categoria contos A clareza de linguagem de O abridor de letras é a primeira coisa a chamar a atenção. Algo que, quando se encontra no Brasil, é logo temperado com algum grau de Barroco. Ainda que essas histórias não estejam distantes totalmente disso, seja pelo estilo, seja pela temática a exuberância da natureza e das relações, por exemplo, é o domínio da linguagem e a consciência que só há no autêntico escritor que não permitem os excessos tão comuns nos paraísos tropicais. É como se nos encontrássemos com uma forma de narrar à maneira de alguns clássicos brasileiros, mas com um sopro novo. A inventividade tem muitas formas de apresentar-se, e a do autor desses contos é combinar certos traços de um linguajar antigo com uma cosmovisão não somente muito pessoal, mas muito atual. As quantias, e sempre tudo se resumia a quantias, lê-se numa passagem, e o raciocínio se emenda numa comparação do tempo com canal miúdo. Tudo isso num parágrafo que começa pela frase Queriam imprimir os seus labéus em mim. Quem usa hoje a palavra labéus? Certamente um autor com o domínio pleno dos seus meios, para quem o tempo passado, o presente e o futuro têm um significado especial numa narrativa definida como conto, que é também um canal miúdo, que ele preenche com as melhores águas.