Como desfamiliarizar algo em um mundo tão exposto a tanta informação tão vária? Como mostrar o estranho a um leitor que tem um acesso tão pleno e tão abundante àquele estranho gerado pela realidade, a mais inescrupulosa das produtoras de sentido? Neste lugar, neste mundo a literatura só existe como interface entre múltiplos modos de percepção, como encruzilhada em que realidade, fantasia, novo, conhecido têm de se encontrar em busca de uma nova possibilidade de epifania. Porque, ao mesmo tempo, seu papel como produtora daquilo que os formalistas russos chamaram de ostranênie na linguagem, que é ainda essencialmente o único fundo comum a toda a experiência, se vê cada vez mais necessário, conquanto talvez mais dificultado.