Da divulgação do Manifesto antropófago até hoje, a antropofagia tem sido exaustivamente usada como metáfora da nossa cultura e da criação de nossos artistas. O resultado é que se tornou um paradigma heterodoxo, que se ajusta aos mais variados e minuciosos experimentos criativos, mas que também serve de subterfúgio para evitar impasses políticos e estéticos brasileiros. Além de ser uma das principais linhas de força da produção artística nacional, a antropofagia é igualmente uma das nossas mais bem sucedidas inciativas no campo teórico. Das mais anárquicas às mais previsíveis reflexões sobre a cultura, ela tem sido uma ferramenta conceitual recorrente, dentro e fora do âmbito dos estudos literários. Não obstante a longevidade e a influência da antropofagia, poucos conhecem o trabalho ensaístico no qual Oswald de Andrade esclarece suas principais concepções teóricas. De 1944 a 1954, ele escreveu uma série de textos nos quais elaborou a sua filosofia antropofágica. Nela interpreta a história da civilização como resultado da guerra material e simbólica entre duas tendências psicossociais da espécie humana: o matriarca do e o patriarcado. Partindo deste raciocínio, Oswald comenta a ascensão do patriarcado no mundo pré-helênico e na Grécia Antiga, passa ao cristianismo e ao Império Romano, investiga a realidade feudal e as inúmeras variantes da sua decadência, tais como o surgimento da burguesia renascentista, a Reforma luterana e, é claro, o aparecimento do Novo Mundo. Este último será o prenúncio de um novo matriarcado e o ponto de referência das suas considerações sobre acontecimentos e ideias marcantes da modernidade. Em O perfeito cozinheiro das teorias deste mundo, Tiago Leite Costa introduz o leitor aos principais conceitos dessa teoria e analisa a maneira singular pela qual Oswald de Andrade relativiza os limites entre realidade e ficção, produzindo uma revisão heterodoxa de eventos e ideias tradicionais da história ocidental.