Antropologia debruçada no estudo de um pequeno grupo indígena amazônico (pouco mais de 160 indivíduos), da região do médio Purus, poderia, quem sabe, parecer ao leigo ou desavisado, um exercício de chinesice, em alguns dos sentidos que tem essa expressão. No que toca ao sentido de argúcia, minúcia, paciência e respeito humano pelo Outro, há toda a razão para se considerar assim.O estudo que a antropóloga Fabiana Maizza dedica à etnia Jarawara, consubstanciado no presente livro, certamente admira seus colegas de profissão e empreendimento e espanta o leitor menos afeito a um trabalho dessa natureza. De todo modo, é um trabalho de decifração e escrita ao mesmo tempo técnico e amoroso, que agradará a uns e a outros. E, ademais, o resultado é rigoroso e sem sentimentalismo, nos melhores padrões exigidos pela disciplina e ciência.Os cinco capítulos que constituem esse percurso descrevem, narram e interpretam, tudo com rara inteligência e sensibilidade, os múltiplos aspectos da perigosa cosmografia Jarawara, enredada na trama variada que atravessa desde seu atual território. Quase como um filme em sua riqueza de imagens unidas às vantagens da escrita, a primeira pesquisa etnológica sistemática da etnia Jarawara. E mostra também que seus membros já assumiram e consolidaram uma consciência de direitos humanos e cidadania,a revelar o caminho mais seguro da sobrevivência indígenas.