Se me perguntassem o que é Yumê, o último livro de poemas de Claudio Daniel, eu responderia que é um "sonho", como o próprio autor afirma ao utilizar o termo equivalente do japonês ("Yumê", p. 77), mas um sonho de olhos bem abertos contemplando a permanente sucessão vertiginosa do tempo, com seus reflexos luminosos ou escuros - sempre coloridos - sobre as mais diversas superfícies, entre as quais destacam-se particularmente o mar, o céu, o corpo feminino e o próprio corpo da poesia. É por isso que o livro adquire gestos não só da plástica (marinhas, noturnos, a cuidadosa disposição espacial dos versos e a intencional observação da natureza que ele recebe da poesia oriental), mas também da música, para ser fiel assim ao instrumento de sua pintura, a linguagem: impulsionado pela impressão tanto visual quanto sonora, Daniel delineia uma pintura seguindo a poética estreada em seu primeiro livro, Sutra (São Paulo: João Scortecci, 1992), e enriquecida agora com o corpus de idéias que aparece em Yumê.