Podia certamente se chamar Um homem voltado para seu passado, ou ainda Primeiro amor, mas é para perto de O Estrangeiro, de Albert Camus (livro citado no romance) que nos conduz Hafid Aggoune, romancista talentoso e dono de um estilo trabalhado com a precisão de um ourives, capaz de criar, com uma simples frase, um mundo pungente, de mil cores, em mil tons diferentes. "Os amanhãs" conta a história de um pensionista de uma clínica psiquiátrica na Ilha de Luz, Pierre Argan, que passou sessenta anos fora da sociedade e de si mesmo. Sentado em um banco que acredita ser de uma estação, ele espera um trem que não chega, a sombra de um sorriso sobre o rosto, o deixaria satisfeito. Durante todos esses anos de amnésia, seus olhos úmidos observaram a mão de outro interno, pintor sem pincel nem palheta que traçava linhas no vazio. Numa manhã, o pintor se mata e Pierre volta para casa. Ressurgem as lembranças do exílio na Argélia ocupada e seu grande amor, Margot, a bela aquarelista judia. Este primeiro romance faz o leitor mergulhar em uma história vazia, onde os nadas são sustentados por um estilo rico e poético. E é uma das mais belas surpresas da temporada.