Faz sentido o teatro? Faz sentido escrever teatro? O teatro escrito é uma tentativa de teatro, não o é, ainda. Mesmo os clássicos da dramaturgia são espinhos cravados na pata do leão à espera de um Jerónimo, mais ou menos santo; à espera da perplexidade, da revelação e da plenitude efémera. O texto de teatro será teatro, talvez, um dia, uma hora, um instante, um ato, ou cinco atos. Será e não será. Viverá entre o oblívio e a memória; como um desejo na mente iludida, um feitiço, ou uma incumbência do acaso. O acaso que junta as pessoas, que as divide, que as torna como que acesas, pelo bater das palmas, pelo despertar da atenção. O teatro da Laura Silva tem essa qualidade do experimento, do sair fora das fronteiras habituais; de se colocar fora do óbvio, do evidente, para observar; para mastigar, para digerir e, porventura, sarar, lamber ou ainda, oferecer, partilhar, recolher e reciclar. Não se trata de um teatro imediato, de um teatro afeito ao mediatismo e à pressa; precisa de (...)