Enquanto alguns povos da antiguidade celebravam o deus sol, os poemas de Maria Miguel celebram a deusa Lua, imagem recorrente em muitos deles, espelho da alma fragmentada de Ariadne/Maria Miguel. Em todos os textos emerge sempre, palimpsesticamente, o arquétipo de Ariadne, alinhavando os fios de uma subjetividade dilacerada. Percorrer sua lírica produz uma sensação inebriante, motivada por seu poetar sinestésico e fluido, com doses equilibradas de tensão e distensão, onde os fios soltos do destino adverso, do labirinto interior onde sempre nos perdemos, são ardilosamente reunidos pela força da sábia heroína. A transcendência é o clímax, pois encontrar a saída do labirinto interior não é algo definitivo. Do primeiro ao último verso da obra nos perdemos e nos encontramos diversas vezes no emaranhado de nossa vida interior, representada pelos simbolismos e pelas imagens míticas que compõem a força de seus versos. (...)