Esse primeiro romance de Lima Barreto, embora publicado em 1909, recoloca com vitalidade crítica o tema ainda atual do racismo no Brasil. O autor, militante anarquista e socialista, trava o combate a esse tipo de ideologia de dominação por meio da análise madura de um escrivão sobre os incontáveis mecanismos cotidianos de controle social que impediram seu ingresso na universidade e nas destacadas atividades intelectuais. As memórias de Isaías estão marcadas pelo tom ácido da crítica sobre a demarcação social dos espaços de dominação, como nos regimes de apartheid, e pelo tom sincero no relato das dores físicas e psicológicas: sendo verdadeiras as suas observações, a sentença geral que tirava, não estava em nós, na nossa carne e no nosso sangue, mas fora de nós, na sociedade que nos cercava, as causas de tão feios fins de tão belos começos. Lima Barreto avança na batalha ideológica, com Recordações do escrivão Isaías Caminha, ao demonstrar como o racismo está instalado nas instituições brasileiras, seja na família, na Igreja, na escola, nas Forças Armadas, no parlamento, na justiça, na burocracia estatal, nas empresas, e, especialmente na mídia. Na redação de O Globo, Lima Barreto retira com maestria e grande humor o véu da ideologia da dominação ao descrever as atividades rotineiras dos grandes gênios da imprensa burguesa e os lucrativos negócios da produção e venda de notícias: Era a imprensa, a Onipotente Imprensa, quarto poder fora da Constituição. Com prefácio de Irenísia Torres de Oliveira (professora do departamento de Literatura e pós-graduação em História da UFC, e vice-presidente da ADUFC) e posfácio de Adelaide Gonçalves (professora titular do departamento de história da UFC), Recordações do escrivão Isaías Caminha é contextualizado no debate atual sobre justiça e reparação social nas universidades brasileiras, como obra que na atualidade possa servir aos/às estudantes e professores/as [...]