Phusis, Alèthéia, Khréon, Moira, Logos. Estas são as Grundworte, as "palavras fundamentais" que inauguraram o nosso destino, às quais Heidegger descobre o seu estatuto duplo: abrindo o início, elas abrigam a origem; impulsionando a história manifesta do pensamento, permanecem simultaneamente portadoras da sua vertente secreta sempre esquecida. É este lado secreto que é, aqui, explorado, tornando esta obra a paciente reconstituição do texto de origem. Documento fundamental, dado que é apenas no momento em que é restabelecido, que a nossa história, finalmente tornada ela mesma, pode encontrar o seu termo; que a "questão do ser", finalmente considerada como questão, pode ser abandonada. O que significa que a obra heideggeriana conhece uma viragem dupla: a primeira possibilita ao pensamento que se envolva na questão do ser como história; a segunda permite-lhe que se desembarace dessa mesma questão e que encerre a história. Estas duas grandes rupturas - uma, precoce e geralmente reconhecida, é a Kehre (viragem), a outra, tardia e menos conhecida, é a do Ereignis (acontecimento). Questionar as palavras essenciais é, portanto, clarificar o conjunto da via heideggeriana, fazendo com que se saliente o seu duplo projecto. Projecto que o conduz, a partir do início, aos vestígios originários; e, da origem, até à experiência de "um outro começo". MARLÈNE ZARADER é professora na Universidade de Montpellier-III.