Sob o signo de Artaud e Lispector, citados em epígrafe, Adília César oferece-nos um conjunto coerente de 85 poemas, reunidos em 17 secções, que inauguram uma poética da perda, criando uma circularidade à volta da imagem feroz que abre e fecha o volume para designar o eu a sangrar-me encostada à faca. Entre círculos de nada e exclamações do sentir, a voz poética desenha o percurso de uma aprendizagem onde se inscrevem algumas reminiscências infantis, as asas da melancolia, os fantasmas que amparam as quedas num lugar cercado por muralhas de palavras, mas aberto por vezes à semântica do desejo e aos fragmentos sentimentais que alternam com a descrição da catástrofe. A convulsão da linguagem traduz ainda a febre do desencontro amoroso quando o outro é conotado com o sono de marfim e o espaço se povoa de pirilampos apagados. Neste livro sedutor, o sujeito poético avança nas dobras da perda e convida-nos a celebrar o tempo, esse incinerador de todos os instantes, para exprimir o fino (...)