Sentada à mesa da cozinha, uma avó divide os causos de sua vida no interior com as netas. Um ritual íntimo e cotidiano tornou-se extraordinário nas mãos de Lívia Aguiar. A poeta captou o lirismo da fala de sua avó Ana Angélica e, a partir dela, criou poemas-causos que se passam no tempo que o povo marrava cachorro com linguiça, a luz vinha do querosene e a mandioca era lavada no rio pra virar farinha. Os poemas têm sotaque e expressões encontradas no nordeste de Minas quase Bahia, que convidam leitores a experimentar os sons e ritmos da vida no campo, onde a chuva e o sol forte se impõem sobre as horas do relógio. Da infância à vida adulta, Lívia tece uma biografia bem-humorada, mas que não oculta as partes mais sensíveis e doloridas da trajetória da avó, narrando sem metáforas as dores e delícias de uma mulher cheia de sonhos a quem só foi permitida a função de dona de casa.