A Escrituras Editora, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), publica O espelho libertino, de Luiz Pacheco, organizado por Floriano Martins, com prólogo de Maria Estela Guedes e ilustrações de Hélio Rôla. Esta obra mescla textos que tão bem caracterizam a interferência de Luiz Pacheco na Literatura Portuguesa, mesclando gêneros que assinalam a essência da crítica deste voraz libertino, que descrê na moral, principalmente no que ela tem de amparo para justificar a barbárie. Some-se a isto a agudeza com que Pacheco sempre tratou dos temas a seu dispor, uma leitura cortante de atores e circunstâncias viscerais. Pacheco sempre conviveu com suas ambições, com seus erros e acertos. Longe dele a idéia de ser um exemplo. Está bem mais para um antiexemplo, considerando a hipocrisia que denuncia com seus textos, a penetrante leitura que faz de assuntos que envolvem, sobretudo, o temperamento do intelectual português. Há sempre um tom de manifesto ou mesmo de escracho em tudo que escreve, como se a todo instante buscasse desmascarar situações veladas. Caberá ao leitor ir se aproximando da torrencialidade da escrita de Luiz Pacheco, de sua sinceridade caudalosa,percebendo nesta aproximação que não se trata do discurso de um meramente descontente ou de um frustrado, mas antes se trata da indignação sempre a postos, de alguém que expõe com exímia lucidez as entranhas agonizantes de uma época.