Censurado pelo regime comunista e com o passaporte confiscado, um escritor é obrigado a se empregar como gari nas ruas de Praga. Com esse ponto de partida, Ivan Klíma constrói Amor e lixo, em tradução direta do tcheco por Aleksandar Jovanovic. Completa o volume uma longa entrevista concedida pelo autor ao americano Philip Roth em 1990, com tradução de Paulo Henriques Britto. Não sem boa dose de melancolia, o narrador anônimo do romance evoca a razão de ter começado a dar seus primeiros passos na literatura, aos 18 anos: O sofrimento decorrente de uma vida privada de liberdade parecia-me o mais importante de todos os temas a respeito dos quais cabia refletir e escrever. Como seu personagem, Klíma, que completou 90 anos em 2021, viveu mais de duas décadas sem poder publicar desde o silenciamento da Primavera de Praga pela ocupação soviética, em 1968, até a Revolução de Veludo, que encerrou o regime de partido único, em 1989. [...]