Tudo começou com um clube do livro, em uma escola pública brasileira, o Liceu Nilo Peçanha, em Niterói - RJ, em 1982. Jovens sedentos de descobertas, a literatura exercendo fascínio, um professor apaixonado. A intimidade com que Luzia de Maria trafega pela literatura foi essencial para o sucesso do clube. Como um artesão criativo, depois de experimentar ali as ferramentas adequadas na desafiadora tarefa de formar leitores, ela fez das aulas de literatura, nos anos seguintes, um fértil território de descobertas e crescimento. Com a literatura reinando soberana. Mas aqueles jovens de 1987 superaram todas as expectativas: leram 40, 50 e alguns até 70 livros em um ano escolar. Tornaram-se íntimos de Moacir Lopes, José J. Veiga, João Ubaldo Ribeiro, Oswaldo França Jr., Fernando Morais, Lya Luft, Clarice Lispector, Isabel Allende, Gabriel García Márquez e muitos outros. Vinte anos se passaram. Luzia de Maria tornou-se professora da Universidade Federal Fluminense, criou jornal e revista para falar de leitura, fez centenas de palestras sobre o tema Brasil a fora, escreveu diversos livros. Em dezembro de 2006, o livro Sortilégios do avesso Razão e loucura na literatura brasileira, levou Luzia de Maria a ser entrevistada por Jô Soares. Falaram deste e de outros livros seus, mas ela falou também de sua teimosa atuação na formação de leitores e daquela experiência dos anos 80. A ponte foi lançada e aqueles estudantes agora, profissionais bem sucedidos, graduados em universidades públicas, com mestrados e doutorados entraram em contato. Daquele encontro nasceu este livro. De forma inédita, ele relata a experiência e aponta os resultados: nele temos a visão do professor e também a dos alunos, hoje advogados, defensores públicos, engenheiros, dentistas, doutores em biologia, professores universitários e outros: 24 deles contam sua versão da história e avaliam o papel daquela leitura em suas vidas, do ponto de vista profissional e humano. Com rara felicidade, no extenso primeiro capítulo, que ocupa metade do livro, Luzia de Maria traça um panorâmico retrato da leitura: como ela tem se tornado uma exigência deste século XXI; o seu caráter libertário e transformador; sua inegável contribuição na conquista da expressão oral e escrita; seu papel na vitalidade do cérebro; entre outros aspectos. Tudo isso com um diferencial que confere sabor e leveza ao texto a autora ancora sua argumentação, não na pedagogia, mas na fala daqueles que ela considera os mais excepcionais leitores: os escritores. Assim, podemos afirmar que este livro traz ainda um valor agregado: depois da convivência com Luzia de Maria e deste passeio pela obra daqueles escritores que ela elegeu como parceiros ernhard Schlink, Nélida Piñon, Moacyr Scliar, Mário Vargas Llosa, Italo Calvino, Todorov, Rosa Montero, Orhan Pamuk, Amós Oz, Carlos Fuentes e outros nós, leitores, saímos de seu livro instigados pelo desejo de ler.