A vida sob o capitalismo contemporâneo impõe, cada vez mais, demandas que representam a aceitação do sofrimento, de inúmeros sacrifícios, do esgotamento psíquico, numa dinâmica sufocante que sequer exige justificativas políticas ou manobras ideológicas elaboradas. Aqueles que ainda têm emprego trabalham desesperadamente, os desempregados correm desesperados atrás de um emprego. Os avanços tecnológicos, ao invés de nos propiciar tempo livre, exigem compromissos, disciplina, gastos sem fim e uma completa disponibilidade para aceitar as migalhas que o mundo do trabalho ainda é capaz de oferecer. Já não nos dispomos a pensar sobre o que somos enquanto sociedade, as respostas mais fáceis e estúpidas são acolhidas com reverência e admiração. Esse livro se propõe a descrever, na forma de uma espécie de diário da crise, a dissolução da vida social, o ocaso da modernidade e suas consequências. A observação crítica do cotidiano revela correntezas que nos conduzem ao colapso, mas, em meio a elas, como rêmoras coladas a um enorme tubarão, a utopia, teimosa, sobrevive à não liberdade.