Lunar Park começa como uma autobiografia. Ellis confirma, sem pudores, tudo o que se sabe (ou que se pensa saber) sobre ele: o sucesso repentino, os escândalos, seus amores e desafetos famosos, seu cinismo e arrogância. E também a relação tumultuada com seu pai, um homem violento que lhe deixou U$ 10 milhões em dívidas ao morrer e cujo último desejo Ellis se recusou a realizar, embora pudesse fazê-lo com facilidade. Tudo parece corresponder à realidade, com riqueza de detalhes polêmicos. Até que Ellis começa a falar de coisas das quais ninguém jamais ouviu falar: sua decadência profissional, seu casamento com uma atriz medíocre e o filho que ele despreza desde antes do nascimento. Em Lunar Park, é impossível distinguir os limites entre ficção e realidade. Apenas Bret Easton Ellis, o autor, poderia esclarecer o que, em seu livro, é mentira com fundo de verdade ou verdade exagerada por algumas mentiras. Mas nem adianta perguntar ele se recusa a responder. A grande surpresa, no entanto, não é quando o leitor se dá conta de que está lendo uma obra de ficção, mas, mais específico que isso, uma história de terror. Os personagens dos livros anteriores de Ellis começam a atormentá-lo especialmente Patrick Bateman, o assassino de O psicopata americano, inspirado em seu pai, que também parece ter voltado do mundo dos mortos para persegui-lo. Em paralelo, cadáveres proliferam em torno de Ellis, enquanto os garotos pré-adolescentes da vizinhança vão desaparecendo um a um, sem deixar vestígios. Fantasmas do passado e da ficção invadem a realidade do escritor para destruir sua sanidade mental. O autor enlouqueceu ou é tudo verdade? Ou o que o atormenta são as seqüelas do uso contínuo e abusivo de drogas? De qualquer maneira, que diferença faz? Importa apenas o fato de que Lunar Park e as críticas ao livro construíram uma nova identidade para Bret Easton Ellis: a de escritor maduro no auge da forma, hábil em prender a atenção do leitor ao mesmo tempo em que frustra suas expectativas, alternando sadismo, violência, comicidade, decadência, crítica social, substâncias ilícitas, niilismo e cinismo num ritmo frenético.