em 2007, eu e minha família nos instalamos na coréia do sul onde vivemos durante dois anos e meio. foi minha primeira experiência asiática. para uma antropóloga como eu, foi uma enorme descoberta, esse país se apresentava como um campo de estudos quase virgem, pois a abertura de suas fronteiras era relativamente recente. com exceção dos americanos presentes desde o fim da guerra, os coreanos tinham pouco contato com o exterior. dentre as suas diversas particularidades culturais, uma descoberta chamou muito minha atenção: os coreanos acreditam ser uma raça pura. sendo oriunda da sociedade brasileira considerada por especialistas a sociedade mestiça por excelência, interessei-me por este aspecto que considero central na sociedade coreana. no momento em que o mundo fervia e vivenciava a criação de novas sociedades através de um processo de mestiçagem cultural, linguístico e étnico, principalmente durante as grandes descobertas marítimas, os coreanos fechavam suas fronteiras e consolidavam uma forte solidariedade interna. buscando os elementos simbólicos de sua coesão social no mito de origem personificado pela imagem de tangun, o pai fundador, a crença na pureza de sua raça se consolidou, fazendo-os acreditar que pertencem, todos, a uma mesma linhagem de sangue. foi essa perspectiva que eu me interessei em verificar, principalmente hoje, quando os membros do antigo reino ermita, que se protegeu do contato com o exterior durante séculos, são obrigados a estabelecer relações com os estrangeiros que se instalam, cada vez mais numerosos, em seu próprio território.