Redes sociais: a doce tirania das vidas expostas é um de­safio a que nos propomos para tentar descortinar partes do dinamismo-distópico-subterrâneo da vida ‘vivida’ nessa redo­ma virtual. As redes, com suas aparências sedutoras, colocam os usuários para encenar, representar, simular e editar o real. A divertida encenação dessa experiência impulsiona mecanismos geradores de miragens de sentidos e encantamentos. A gramática do discurso aduz a aderência e a legitimidade. Cum­pre ressaltar que se entende que esse não é apenas uma conjun­ção do mundo-espelho, mas nelas instala-se um ‘palco’ perfeito para a ressonância das práticas narcíseas. Sob esse fundamento, o indivíduo desenvolve personalidade narcísica e agressiva dis­posta a tudo para obter o sucesso e a visibilidade. Nesse contexto, as ‘múltiplas faces do Eu’ e o individualismo social fazem surgir o homem bricolado, o homem recorte, estampa de ser, propaganda, outdoor social. O indivíduo multidão, múltiplas faces de um ser sem rosto. Síntese do momento, repositório de celebridades, eco de pensamentos aleatórios, faminto de likes, selfies sem self. Assim, esse sujeito dessubstancializado tomou a imagem para encobrir a palavra e a escuta. Proibido não ser visto. Logo, faz da servidão da visibilidade a sua força. Pareceu oportuno esquadrinhar mais profundamente a na­tureza dessa sociedade ‘nas redes’ e a vida dos indivíduos como uma conjunção que requer elucidação e reflexão. Este livro é um campo de batalha, no qual demos forma a nosso combate à ideologia desse ‘mundo’ de que duvidamos.