Buscando explicar o "orientalismo" peculiar do Oriente, Okakura valeu-se do chá para simbolizá-lo. No Extremo Oriente o chá assume a mesma importância que o sal para nós: a essência que empresta sentido e sabor àquilo que, sem ela, seria monótono e insípido. De início, Okakura fala de sua origem, de sua história primitiva, de sua difusão e, em seguida, volta os olhos para seu simbolismo no Japão: a cerimônia do chá, essa cerimônia tipicamente japonesa, que não se observa em nenhum outro lugar no Oriente. Trata-se de uma cerimônia quase religiosa, realizada segundo ritos estabelecidos há séculos, onde um grupo de pessoas se reúne e age com atitudes tão fantasticamente rígidas como jamais adorador algum devotou a um deus severo. Em O Livro do Chá, Okakura professa a sua fé na arte e no belo, empenhando-se na demonstração de quanto a cultura e a tradição de sua terra devem à tradição do chá. E o faz entremeando sensibilidade com raciocínio, argumento com poesia, erudição com inspiração, condensando no curto espaço destas páginas tudo quanto assimilou em suas buscas, pesquisas e experiências, que diz respeito à arte tradicional do Oriente.Kakuzo Okakura, conhecido crítico de arte, erudito e curador de arte chinesa e japonesa do Museu de Belas-Artes de Boston, dedicou a maior parte da sua vida à tarefa de proteger e restaurar o patrimônio cultural do Japão - em artes, ética, costumes sociais e outras áreas da vida -, quando o país passava por uma ocidentalização que causou uma verdadeira reviravolta no estilo de vida japonês. Este clássico moderno, O Livro do Chá, é basicamente uma apologia das tradições orientais, dirigida ao mundo ocidental - não em termos exaltados e excessivamente sentimentais, mas com uma elegância e vigor que mostra claramente algumas das diferenças entre a mente ocidental e a oriental. Okakura demonstra a "personalidade" característica do Oriente por meio da filosofia do Chaísmo e a antiga cerimônia japonesa do chá, que revela principalmente o estilo conservador da cultura japonesa; seus ideais de tranquilidade estética e submissão aos costumes do passado não encontram paralelo nos principais temas culturais do Ocidente.