O que há de mais bruto na poesia é a sua matéria onírica. Revelá-la é a tarefa do poeta, um escultor da linguagem. Assim então os talhes buscaram na pedra que sonha o corpo do poema, ou ao menos um rosto, uma boca através da qual o poema falasse. Os versos presentes neste livro, no entanto, parecem anteceder a prática do aprimoramento da linguagem pelas vias interventivas do talhe ou da lixa de polir. Parecem antes gerar novas formas a partir da combinação e dos constantes rearranjos dos significantes dispostos: pedra, pássaro, rio, entre outros recorrentes. As composições de Nydia Bonetti em De barro e pedra parecem não interferir com o preciosismo humano no som original das palavras, como se essas falassem por si mesmas e ainda pelas angústias da poeta, como se os erres do barro derivassem dos erres de terra, e a pedra desprovida de um erre fosse mesmo apenas uma parte do todo, uma saudosa mas imóvel solidão que sonhasse a unidade original do barro, [...]