Crítico exigente de poesia, Manuel Bandeira considerava Raimundo Correia "o maior artista do verso que já tivemos" e "o mais puramente poeta" da famosa trindade parnasiana, que ele formava com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. João Ribeiro ia ainda mais longe: "Não sei de poeta algum da nossa língua que se lhe possa comparar, na perfeição ou no sentimento e agudeza". Àquela época, e durante muitos anos ainda, Raimundo Correia teve a sua corte de fanáticos, capazes de recitar de cor As Pombas, Mal Secreto, O Vinho de Hebe, e outros sonetos e poemas curtos, nos quais Bandeira encontrava "alguns dos versos mais misteriosamente belos da nossa língua". Estreando com um volume repleto de reminiscências românticas (Primeiros Sonhos), "primícias dos primeiros anos", como o definiu o próprio autor, Raimundo Correia (nascido em um navio nas costas do Maranhão, em 1859, e falecido em Paris, 1911) já se apresenta no segundo livro (Sinfonias) em plena maturidade de seus dons poéticos. Ali se encontram os poemas que iriam garantir a fama e a popularidade do poeta, como os sonetos citados. Os livros seguintes, Versos e Versões e Aleluias, mantêm a qualidade da obra, sem lhe acrescentar nada de novo. Ainda em vida, Raimundo Correia foi acusado de plagiário em um artigo enfezado de Luis Murat. As Pombas seria uma simples adaptação de um trecho de Theophile Gautier,O Vinho de Hebetransposiçãode um poema de Mme. Ackermann e Mal Secreto, mera recriação de versos de Metastásio. A acusação fez gastar muita tinta. Hoje, estes e outros poemas de Raimundo na mesma situação são considerados paráfrases. Inspirar-se em textos alheios e reinventá-los foi um processo muito empregado pelo poeta. Talvez diminua um pouco a sua originalidade, mas não compromete ou reduz em nada a sua grandeza.