O mito popular ou a evocação poética dos fatos diz que foi a partir de dois sonhos - um olho cortado e uma mão cheia de formigas - que surgiu o roteiro de Um cão andaluz em 1928, um filme que objetivou mostrar a irrealidade por meio de imagens sem sentido algum. Se em um dado momento, qualquer imagem pudesse ser associada ao repertório cultural ou à alguma lembrança de seus criadores Luis Buñuel e Salvador Dalí, esta deveria ser descartada e só poderiam ser aceitas como válidas as ideias sem explicações possíveis, almejando uma isenção da lógica e estabelecendo um tom misterioso e agraves imagens, nascidas até do inconsciente e transformadas em imagens fílmicas. Buscou-se, muito, chocar o espectador em geral acostumado com a narrativa clássica e linear do cinema nos primórdios do século XX. Através deste trabalho inicial Buñuel e Dalí passaram a ser reconhecidos pelos integrantes do Surrealismo como membros do grupo. Enfatizou-se nestes reconhecimentos os elementos preconizados pelos surrealistas e encontrados na obra de Buñuel e Dalí, tais como a não linearidade, o humor negro, a provocação ao clero e à burguesia, o bizarro, a interdição do amor e a compulsão pelo sexo feminino. Na visão de Luis Buñuel, o cinema lhe pareceu a expressão mais pura e o representante mais específico de sua época, a autentica arte de todos os dias, nascido em função das necessidades espirituais, como as catedrais na Idade Média.