É provável que os paulofreireanos tenham percebido que a grande obsessão moderna - a liberdade - talvez tenha se transformado numa quimera insustentável fora de uma filosofia da consciência (o que não significa que não possamos redescrevê-la); também é possível que tenham se dado conta de que os homens estão aparentemente dispostos a trocar a liberdade pela ordem e pela submissão que as instituições asseguram (uma liberdade que, afinal, foi uma fonte permanente de angústia e temor); que estão prontos a negociar, enfim, a autonomia moral e intelectual pela felicidade que o consumo promete. Se isto for verdade, nossos freireanos terão que aceitar a vitória de uma antropologia realista sobre a promessa utópica da “humanização”. Mas, insistindo no freireanismo - e eis aqui o bom motivo pelo qual “ainda somos freireanos” - seus seguidores garantiriam, numa espécie de razão cínica (Sloterdijck), que o nome do Mestre continuasse a ser invocado e cultuado (uma garantia de legitimidade), mas, como naquela passagem do Grande Inquisidor (Dostoievsky), sob a impreterível condição de que... não voltasse nunca mais, nunca mais!