Charles Baudelaire (1821-1867) foi o grande poeta francês a cantar os sentimentos da cidade grande, onde as pessoas não se conhecem e onde, na multidão, é possível ser atraído por uma silhueta desconhecida. Foi assim em As flores do mal e é assim também em O spleen de Paris, coletânea de 51 poemas em prosa que foi publicada postumamente, em 1869. Spleen ou enfado, melancolia sem razão objetiva, tédio é o sentimento imbuído do qual o eu poético vagueia pela capital francesa, propondo, em pequenos textos sem rima, divagações e devaneios de fluxo de consciência, sem restrições formais, comprometidos apenas com o lirismo da alma. Não faltam aqui tipos e figuras que retratam toda a abrangência e a universalidade da miséria humana: velhos, pobres, cães, viúvas, trabalhadores e operários, beldades, artistas... Ora contos, ora pequenos perfis, estes textos demonstram toda a genialidade e a ousadia deste que foi um dos primeiros poetas modernistas.