Cadu Caetano é autor apaixonado por aqueles instantes em que a arte nos coloca em pé de igualdade com a natureza. Ele compartilha essa pulsão com seus personagens. Presenciamos frases muito ricas em imagens prósperas em formularem questões, levando o ponto de interrogação a todas as certezas. Assim, a peça com título de filme noir prefere seguir a autonomia da sua própria corrente a estacionar em um gênero. O tempo é coisa para gente derreter! É um sorvete! É o vento que passa e nem observa. A volatilidade da vida que não se deixa apreender grita como contradição diante do modelo neoliberal de corromper este planeta. As falas partem dessa premissa. Seus enunciadores já passaram a fase de buscarem aprovação daquilo que aniquila a subjetividade e a abundância da diversidade. Cadu Caetano, através dos diálogos corajosos só possíveis entre amigos, faz rasgado elogio ao instante: Eu me esqueceria de tudo até aqui para estar livre de pensar no amanhã que jamais chegaria. (...)