Livro de estreia de Lia, Estanca é um testemunho em fragmentos. Testemunho da beleza daquilo que se quebra, que é pouco, que é desprezado, mas que persiste. Narra a experiência de uma mulher que sofre por não se conformar à lógica massacrante de um mundo escabroso. A partir de sua vida doméstica, no cuidado com a casa, as plantas, as crianças, no sexo e no sonho, Lia decanta seus ínfimos atos de resistência, porque só quem sofre continua. Rafael Gazzola+Fragmentos poéticos desenham uma narrativa lírica em torno da vida e da morte, pontuada por fatos cotidianos. O que é mínimo ganha relevo, e o que parece trivial se torna o centro da construção da experiência. Marca a obra a mão da mulher escritora, que traz à tona tensões referentes à condição feminina no exercício da maternidade, no sexo, no trabalho, num relato atravessado pela experiência de abortos espontâneos recorrentes. A vivência dos ciclos encontra sua metáfora na natureza, em especial pela evocação do período de seca no cerrado, com seus incêndios. Vida e morte são integradas, numa visão em que uma contém a outra. A dor é tratada como experiência universal, que encontra sentido apenas na perspectiva de renovação. Lia Miranda