Aos quinze escrevia cartas. Páginas e páginas em um envelope pardo com selo postal. Você pode imaginar o espanto no momento exato em que elas deslizavam pelo chão do meu quarto. Aos dezoito, meu corpo se deitava na terra e movia os braços como se fizesse anjinhos barrocos para coroar Ifigênia. No fundo da paisagem, os sinos dobravam brincadeira e lamentos. Eu não sabia latim, mas entendia que era chegada a hora. Nascer em Minas é como acolher nas juntas a epifania dos santos o sobrenatural no que cabe entre o dia e a noite e de repente perceber que, às vezes é preciso transpor as montanhas e rabiscar as linhas das mãos para brotar rearranjos. Hoje, aos trinta Retiro os metais pesados do plexo, alço voo. Encontro no mar aberto o milagre do espelho. No início era a água. Depois, o gosto de sal no céu da boca, os vestígios do que rasteja, as plantas daninhas a germinar frestas para que ela pudesse nascer livre. [...]