Girassóis de Van Gogh. As flores carregadas da luz de Arles, colhidas nas pinceladas chamejantes do artista e arrumadas em seu amarelo original, traduzem no calor impressionista de suas cores o provável momento de seu viço maior, e a imagem do próprio campo de girassóis. Tais são os girassóis de Joseph Eskenazi Pernidji. Momentos colhidos em pleno calor de sua vivência, na espontaneidade simples e colorida de um cotidiano feito de exceções. Momentos singulares, pessoais, universais, que compõem um anedotário digno do Teatro de Variedades a que se refere o autor em seu prefácio. Somos convidados a acompanhá-lo no melhor de suas viagens, a encontrar os tipos mais interessantes que conheceu, a assistir às pequenas comédias e dramas de que foi protagonista, espectador e cronista. Já ouvira algumas dessas histórias, contadas por ele com a mesma graça irônica com que com certeza viveu. E nelas reencontro, em forma de texto, a fluência coloquial, a agilidade de narrador, o sabor pitoresco de cenas e paisagens. A voz transformou-se em escrita, e lemos como se ouvíssemos, víssemos, esses sketches da vida real. A graça de tudo isso está na absoluta plausibilidade das coisas que realmente acontecem, no estímulo de uma sensibilidade capaz de extrair do quase corriqueiro o travo picante do detalhe que transforma o usual em assunto, em memória. Está em descobrir que nas coisas que nos acontecem, e que fazemos acontecer, dormem mil e uma histórias que podem nos divertir, ou emocionar, ou fazer pensar, e que podemos contá-las para que divirtam, emocionem ou façam pensar. Somos todos protagonistas desse vaudeville; palco e platéia. Joseph E. Pernidji nos ensina a ver e ouvir, a compactuar com a vida para transformá-la em história, crônica, Teatro de Variedades, sem pretensão maior que a de termos o que contar. Porque se tivermos o que contar, saberemos que realmente vivemos.