André tem 26 anos e um único vício: ler romances policiais. Quando abre um, não consegue parar até que chegue à última página. Já foi demitido de três empregos (o último deles numa biblioteca) por ter sido pego no flagra: em pleno expediente, devorando as páginas de uma história de detetives. Sem rumo na vida, pressionado pela namorada que o leva a um analista numa última tentativa de frear sua obsessão pela leitura e pelo irmão mais velho e bem-sucedido profissionalmente, o rapaz resolve fazer um curso de detetive particular por correspondência, unindo sua paixão literária à necessidade de arranjar um emprego. André é narrador de O campeonato, romance de Flávio Carneiro que ganha agora nova edição revista pelo autor, com um texto mais enxuto, ágil e envolvente. O livro é o primeiro da Trilogia do Rio de Janeiro. São três romances que têm a capital carioca como cenário principal e dialogam entre si e com alguns gêneros narrativos populares: o policial, no caso de O campeonato; o fantástico, em A confissão, publicado pela Rocco em 2006; e a ficção científica, em A ilha, que tem lançamento previsto para 2010. Em todos eles, Flávio Carneiro faz uma homenagem à cidade, palco de tantas histórias memoráveis, à literatura e aos escritores que admira. Depois de anunciar seus serviços de detetive num jornal citando Edgar Alan Poe, André recebe enfim seu primeiro cliente, um milionário que se identifica apenas como Montenegro e cujo filho, Pedro, de 18 anos, desapareceu misteriosamente. As pistas são escassas e os responsáveis pelo desaparecimento do rapaz não entraram em contato com a família pedindo resgate. Juntos, André e seu inseparável amigo e assistente, o Gordo com o qual divide a paixão por romances policiais , começam a desvendar segredos que envolvem figuras da alta sociedade carioca, personagens misteriosos e belas mulheres, como a sedutora detetive Mariana e a adolescente Lívia. A investigação leva André a descobrir uma bizarra competição, batizada apenas de O Campeonato, que pode colocar em risco sua vida e a de pessoas próximas, numa espiral de suspense que se mantém até o fim. Passeando por bairros e bares tradicionais do Rio de Janeiro, os personagens percorrem as ruas de Copacabana, Leblon, Alto da Boa Vista, Tijuca, Vila Isabel, Engenho Novo, Lapa e Santa Teresa, frequentando endereços tradicionais da boemia carioca, com direito a citações de autores como Rubem Fonseca, Dashiell Hammet, Rex Stout e Agatha Christie, entre outros. Em meio ao mistério da trama, conduzida com habilidade e bom humor, a certa altura André tem um sonho com um homem que sequestra uma mulher, a leva pra uma casa num lugar deserto e diz a ela que a sequestrou porque precisa lhe contar uma história. Este é justamente o enredo do segundo volume da trilogia ou seja, A confissão é nada mais nada menos que um sonho do narrador de O campeonato. Um fascinante jogo em que livros e histórias, embora possam ser lidos de forma independente, formam uma teia intricada, um novelo a ser delicada e misteriosamente desvelado.