Entre Brasil e Portugal, o mar. Salino, corrente, vasto. Este livro de Elisa Andrade Buzzo traz a força arenosa, granular e sedimentada de um tempo que vem de sempre, mas que nos leva a um lugar que ainda não conhecemos. Uma Sagres como símbolo de linhagem e de alinhamento, não só com as profundezas da língua portuguesa, com a dicção portuguesa tão íntima e tão misteriosa aos autores brasileiros mas também com a natureza lírica da poesia. A poeta é especialmente habilidosa nessa construção encantatória, barravento, a partir de elementos do imaginário literário português, explorando o que poderia haver para além de falésias, infantes, seixos, alcovas, relíquias, lamparinas, âncoras, espumas E ainda muito antes, em vestígios do período neolítico, num território reduzido ao essencial. Uma espécie de ourivesaria sobre camadas mais fundas ou melhor, dissecação e rearranjo das partes primordiais para que ressignifiquem na caleidoscópica poesia contemporânea. (...)